Por Michele Correia Sensitiva
Quando alguém se torna dependente de drogas, não está apenas entrando em um tormento físico e psicológico está vivenciando uma provação que toca a alma, moldada por dores antigas, heranças espirituais, e feridas de vidas passadas. É um calvário cotidiano, onde cada dia parece uma repetição amarga de promessas quebradas, sonhos desvanecidos, culpa, vergonha e um vazio que grita em silêncio.
Mas há, por trás da dor, um chamado à cura profunda um resgate kármico que convoca não só o dependente, mas todos que lhe cercam: familiares, amigos, aliados espirituais. É um pedido de reconexão com o divino, com o amor, consigo mesmo.
Neste artigo, vamos mergulhar no que o espiritismo e outras crenças religiosas entendem sobre os vícios: como surgem, por que persistem, o que carregam de espiritual, e como pode acontecer a libertação para o dependente e para sua rede de apoio.
No espiritismo, a dependência química muitas vezes está relacionada a dívidas cármicas antigas quando, em outras encarnações, o espírito se entregou a práticas de vício ou permitiu-se ficar sob influência de espíritos inferiores. Ao reencarnar, esse espírito pode se encontrar predisposto ao vício, por fragilidades que carregam do passado. Essa herança não é destino imutável, mas sim um cenário no qual o livre-arbítrio precisa entrar em ação.
Há relatos em obras espíritas (livros de André Luiz, por exemplo) de dependentes cujo Espírito perispiritual está danificado, inundado por toxinas espirituais após o uso abusivo de substâncias, expondo-se à influência de espíritos do mal ou obsessores que se aproveitam de sua fragilidade. Essas entidades, muitas vezes, reforçam o vício, sugerem recaídas, aprofundam desesperos.
No uso contínuo, a mente, o corpo e o Espírito começam a se desalinhar. A dependência atua como anestésico espiritual: bloqueia percepções de valor, de missão, de propósito. O vício promete alívio, fuga dos medos, da solidão, da dor existencial mas entrega aprisionamento. A alma, que antes buscava luz, torna-se obcecada pelo próximo consumo, perdida entre sombras interiores.
A partir da Doutrina Espírita, não é só o corpo físico que sofre. O perispírito corpo espiritual que liga o Espírito ao corpo material acumula toxinas, imperfeições, energias densas. Mesmo após a morte corporal, essas marcas podem persistir, causando dor ou dificuldades no além‑túmulo.
A culpa, a vergonha, o arrependimento, a sensação de não ser digno de amor tudo isso mina o relacionamento do dependente consigo mesmo. Ele se isola, sente-se rejeitado, mantém segredos, culpa a si e ao mundo. A ânsia por escapar se mistura à acusação interior: “Eu sou fraco. Eu falhei.” Essa doença mental é parte do calvário.
Família, amigos, parceiros: todos se vêem impactados. Relações que já foram de amor tornam-se tensas. Violência emocional, traições, mentiras, decepções. A dependência separa, bloqueia a confiança. A rede de apoio se fragmenta, o encontro humano verdadeiro se torna raro.
A pessoa pode perder emprego, condição social, finanças, moradia. O vício exige cada vez mais recursos, às vezes envolvendo dívidas, furtos, ou abandono de responsabilidades. As consequências atravessam gerações: filhos filhos de dependentes carregam impactos emocionais, traumas, insegurança.
Na tradição cristã, o vício muitas vezes é encarado como escravidão do pecado ou forças do mal. Há quem veja no vício não simplesmente um defeito moral, mas uma cadeia espiritual que aprisiona. A oração, a confissão, a unção, a intervenção pastoral ou espiritual são práticas de libertação. O poder do amor divino, da redenção e do perdão é central: crer que existe esperança de renascimento.
Umbanda, Candomblé, e outras tradições reconhecem na obsessão espiritual causada por espíritos desequilibrados ou entidades com nó kármico – uma das causas dos vícios. Trabalhos espirituais de limpeza, oferendas, corte de laços espirituais, banhos de ervas, rituais de libertação e de reconexão com os orixás ou guias são utilizados como caminhos de cura.
Embora o uso de drogas seja visto de modos variados, muitos caminhos espirituais consideram que o vício representa apego, ilusão, fuga do presente. No budismo, por exemplo, drogas são reconhecidas como obstáculos ao despertar, pois intoxicam a mente e impedem a prática da atenção plena. O hinduísmo, em algumas escolas, associa intoxicação mental com desequilíbrio dos doshas ou energias, sugerindo práticas de purificação, jejum, mantras, yoga, etc.
Resgate kármico é a oportunidade que o Espírito tem de equilibrar dívidas de vidas passadas: escolhas, erros, negligências espirituais. Cada ação tem reação, cada omissão gera uma necessidade de reparação. O vício, então, pode ser visto como uma dádiva difícil: oferece a chance de enfrentar os próprios limites, compreender os próprios padrões cármicos e escolher a mudança.
Empatia verdadeira: ao experimentar dor, o dependente pode desenvolver compaixão maior pelo sofrimento alheio;
Valorização da liberdade interior: cada recaída, cada “derrubada” pode revelar um valor maior de compromisso, humildade, paciência;
Ligação familiar e espiritual: a crise de vício mobiliza a rede de apoio, possibilita reconciliações, curas ancestrais;
Transformação de prioridades: o que antes era prazer imediato, pode se tornar serviço, cuidado, busca espiritual.
O Espírito reencarnado não está impotente: há sempre o livre‑arbítrio. O vício impõe, mas não determina. A dor não é inevitável, e a recuperação é possível quando se aceita a responsabilidade espiritual, quando se decide trabalhar para resgatar o equilíbrio, mesmo que lentamente, dia após dia.
Passe Espírita: imposição de mãos, transe de energias positivas ao dependente, para reduzir influência de espíritos inferiores, aliviar o peso do perispírito, trazer paz.
Reuniões, palestras e doutrinação: estudo de textos como “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “Nosso Lar”, obras de André Luiz, que ajudam a cultivar fé, esperança e compreensão do processo espiritual.
Assistência espiritual: envolver médiuns, espíritos benevolentes, fluidos de luz que acompanham o dependente, ajudam-no a resgatar forças interiores.
Oração, confissão, esmolas, intercessão (Cristianismo);
Rituais de limpeza, oferendas, corte de laços espirituais (Religiões afro‑brasileiras);
Meditação, práticas contemplativas, yoga, mantras (Tradições orientais);
Busca de propósito, serviço ao próximo, caridade, presença na comunidade de fé.
Importante: embora o espiritual seja central para muitos, é raramente suficiente sozinho. A dependência química frequentemente exige:
tratamento médico / psiquiátrico (quando há comorbidades, abstinência, compulsão severa);
terapia psicológica para trabalhar traumas, padrões emocionais, crenças de auto‑imagem;
apoio social, grupos de recuperação, redes de suporte.
A espiritualidade pode dar sentido, força, motivação, mas o cuidado técnico garante segurança e estabilidade. Estudos mostram que pessoas que envolvem religiosidade ou espiritualidade no tratamento de uso de drogas têm melhores índices de recuperação.
6. A Família, a Rede de Apoio e o Amor como Chave de Libertação
manter o amor, a paciência, a firmeza de limites com compaixão;
oferecer acolhimento sem julgamento;
preservar a dignidade do dependente, mostrar que ele é mais que o seu vício.
assistir a centros espíritas ou religiosos;
envolver orações coletivas;
permitir que o dependente seja apoiado também energeticamente, fisicamente, emocionalmente;
quando possível, buscar trabalhos espirituais que promovam cortes de laços, proteção espiritual, reconexão com o sagrado.
Família também carrega dor, culpa, frustração. É essencial que mantenham apoio psicológico espiritual, grupos de ajuda, oração, oração em família, louvor, meditação. A cura de um dependente muitas vezes passa também pela cura de quem está ao seu redor.
O dependente ou a própria estrutura espiritual interna pode resistir à mudança: medo do vazio, sensação de que nada mais dará prazer, desconfiança de que a nova vida dará suporte suficiente.
Ambientes sociais, amizades, cultura do consumo, estigma – tudo isso pressiona pela recaída. A tentação vive no cotidiano.
Caminho não linear. Recaídas fazem parte da história de muitos que conseguem se libertar. No espiritismo, cada queda pode ser vista como oportunidade de aprender humildade e persistência. Não é vergonha, é parte do processo de cura.
O primeiro passo é reconhecer que se está no vício, assumir fragilidades, permitir-se sentir arrependimento não para se punir, mas para abrir espaço para a graça, para a transformação.
Orações, passagens espirituais, leitura edificante, práticas de gratidão. Entender que cada dia vivido longe da dependência é semente de luz plantada.
Buscar algo que ressoe no coração: servir, amar, criar, construir algo maior que o próprio sofrimento. Um propósito espiritual que traga sentido pode ser farol nos momentos escuros.
participar de grupos de autoajuda ou de recuperação espiritual;
solicitar passes ou ajuda espiritual;
cortar laços com ambientes ou pessoas que alimentam o vício;
adotar práticas de purificação física e espiritual: jejum, banhos, orações, meditações;
Permita-se imaginar: um humano que acorda, ainda que com o corpo marcado, mas com a alma renovada. Que escuta o chamado interior. Que reencontra o amor por si mesmo. Que se reconecta com seu Eu profundo, com Deus ou com o Sagrado. Que resgata seu valor, sua dignidade, sua missão.
O vício em drogas pode ser um dos capítulos mais dolorosos de sua história ‒ talvez o mais pesado até agora ‒ mas certamente não precisa definir o livro inteiro. Há luz além da dor. Há perdão além dos erros. Há uma jornada de renascimento para quem aceita caminhar, com coragem, fé, ajuda e humildade.
Os vícios não são apenas hábitos ruins: são expressões de dor espiritual, de urgência de cura.
A liberdade verdadeira não é ausência de tentação, mas poder escolher mesmo com tentação.
Todas as religiões sérias e espiritualidades autênticas falam, de uma forma ou de outra, sobre desprendimento, perdão, serviço, amor ingredientes essenciais para a libertação.
Ninguém conquista este caminho sozinho: rede de apoio, espiritualidade sincera, técnica, caridade consigo mesmo.
Se é doloroso viver na pele o vício, talvez seja ainda mais angustiante ver alguém que se ama se destruindo pouco a pouco, enquanto você tenta sem sucesso salvá-lo. A dependência química não atinge apenas o usuário: ela atira ondas de sofrimento em círculos concêntricos, que impactam a alma, o destino e a estrutura espiritual de todos à sua volta.
No plano espiritual, nada é acaso. Ter um filho, marido, esposa, irmã, amigo ou pai envolvido com drogas pode representar uma ligação kármica profunda. Em muitas leituras espirituais, essas relações são reconexões de vidas passadas onde:
O amor foi negligenciado, e agora há chance de amar incondicionalmente;
O controle foi abusivo, e agora é necessário aprender a respeitar o livre-arbítrio;
O abandono aconteceu, e agora é hora de amparar com presença;
Houve violência ou destruição mútua, e agora o elo é resgatado por meio do sofrimento conjunto, para reconstruir a compaixão.
Nada disso quer dizer que você deve se anular. Ao contrário: você está sendo chamada(o) a crescer, a desenvolver um tipo de amor maduro, equilibrado e espiritualizado, que é firme, mas não violento; presente, mas não permissivo.
Viver com um dependente é, muitas vezes, viver no caos. A instabilidade é o pano de fundo da rotina. Você nunca sabe como ele (ou ela) vai acordar. Há dias bons, e logo depois, recaídas devastadoras.
Desgaste energético diário: você pode estar com seu campo áurico danificado, drenado pela convivência com energia densa e obsessores associados à dependência;
Teste de fé e resiliência: sua alma está sendo testada em sua capacidade de confiar no tempo divino, mesmo diante do desespero;
Convite à autoelevação: quanto mais instável o outro, mais você é chamada a se estabilizar internamente fortalecer sua espiritualidade, sua luz, sua paz.
A dependência muitas vezes destrói finanças, dilacera casamentos, separa irmãos, e esgota o emocional. Mas por trás dessas dores, há códigos espirituais que pedem leitura mais profunda:
Desapego material: quando o dinheiro vai embora, você pode ser levado a valorizar o que realmente importa conexões humanas, paz interior, espiritualidade;
Perdão incondicional: o perdão espiritual verdadeiro não exige que o outro “mereça”, mas que você libere seu coração para não se tornar também prisioneiro da dor;
Limites com amor: aprender que colocar limite é também um ato de compaixão, e não abandono;
Justiça divina acima da justiça humana: muitas vezes, o dependente fere, trai, engana. E você quer justiça. Mas a alma está sendo tratada em outro plano e sua missão é não se contaminar com o ódio.
Essa é a pergunta que quase todos que convivem com dependentes fazem em algum momento:
"Por que eu? Por que eu fui mãe de um dependente? Por que eu fui traída por ele? Por que tive que assistir a tudo isso de perto?"
Espiritualmente, essas perguntas não têm respostas simples, mas há três caminhos principais de reflexão:
Você pode ter aceitado, antes de reencarnar, ser um pilar, um amparo, uma âncora para esse espírito que estaria em risco. Essa missão é dolorosa mas também é sagrada.
Houve algo no passado (dessa vida ou de outra) que agora pede correção. Isso não é punição é uma oportunidade de evoluir, perdoar, restaurar.
Às vezes, a dor serve para acordar o espírito. A convivência com um dependente pode ser o catalisador de sua própria elevação espiritual você descobre sua força, sua fé, sua verdade interior.
Quem já amou alguém no vício conhece um tipo de dor que não tem nome: ver a pessoa mentir, sumir, prometer mudar e não mudar. A alma se enche de raiva, ressentimento, tristeza profunda.
"Eu dei tudo de mim. E ele (ou ela) jogou fora."
Amor sem apego: amar sem exigir retribuição um amor que liberta, não que prende;
Autoamor: reconhecer que seu valor não depende da resposta do outro;
Transformação através da dor: cada lágrima não é em vão. Cada colapso abre espaço para uma reconstrução mais autêntica.
O foco quase sempre é o dependente. Mas você, que cuida, que sustenta, que sofre calada(o), também precisa de ajuda. E mais: você merece se curar.
Banhos energéticos de descarrego e proteção
Passe espiritual semanal (centros espíritas, umbanda ou de oração)
Rituais de corte de laços de dor (não de amor)
Terapia espiritual (apometria, constelação familiar espiritual, benzimentos)
Evangelho no lar ou momento diário de oração com firmeza e fé
Grupos de apoio espiritual ou emocional para familiares de dependentes
Há momentos em que, espiritualmente, você é chamado a soltar o dependente, não por frieza, mas por sabedoria. Às vezes, a alma dele precisa tocar o fundo para reencontrar a luz e sua insistência pode atrasar o processo.
Soltar não é deixar de amar.
É dizer:
“Eu estarei aqui quando você quiser ser ajudado, mas eu não vou me afundar com você.”
Isso é espiritualidade em ação.
Se você recebeu essa missão, é porque seu Espírito tem força. Pode não parecer agora talvez você se sinta exausto(a), frustrado(a), doente de tanto tentar. Mas os mundos espirituais sabem quem você é. Sabem do seu coração. Sabem da sua entrega.
Você não está só. Espíritos de luz te acompanham. Forças invisíveis sustentam seus passos. Mas você precisa se abrir para receber.
O vício é destrutivo, sim. É doloroso, injusto, cruel. Mas também é um portal. Um convite para que:
o dependente se reconecte com seu Espírito;
os familiares transcendam a raiva e acessem o perdão;
todos evoluam cada um ao seu tempo.
A cura não acontece só na abstinência. Ela acontece quando a alma se reconcilia com a verdade, com a luz, com o amor.
**"Senhor,
Ajuda-me a amar com firmeza,
a soltar sem abandonar,
a confiar mesmo quando não entendo.Dá-me paciência quando me faltar força,
sabedoria quando me faltar respostas,
e fé quando tudo parecer perdido.Que eu não me esqueça de mim no processo.
Que eu não confunda ajuda com sacrifício.
Que eu não perca minha luz enquanto busco acender a do outro.Abençoa este ser que amo.
E abençoa meu coração, para que ele não endureça,
mas siga pulsando amor, luz e coragem."Amém. Axé. Namastê. Que Assim Seja.